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No Hospício

“A palavra não deve ser para a alma senão um sinal misterioso, muito discreto, muito austero, muito augusto, só perceptível à visão dos espíritos. Parece mesmo uma deplorável extravagância da nossa natureza incompleta este capricho de reduzir a medida e a cadência as grandes emoções a que a alma se exalça em certos momentos.” (Rocha Pombo)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Velho do Saco

- Ora, Thaís, não sabe que o velho do saco é malvado? Ele come criancinhas de almoço e lixo de sobremesa. Sabe o que tem dentro daquelas grandes sacolas? Não são restos de lixo, não. São ossos de gente; de humanos que ele comeu!

- Mãeeeeeeeeeeeeeeeeee! – gritou a menina, correndo para o quarto dos pais, com medo da história apavorante que o irmão contara.

O que nenhum deles sabia era o que realmente acontecera com o “Velho do Saco”. Sim, aquele do lado de fora de casa, fuçando na lata de porcarias como um animal faminto a procura de sobras.

Antigamente, os pobres velhinhos “saquistas” sofriam nas mãos das crianças que vinham atirar-lhes pedras, zombar de suas feiúras e fugir como covardes depois. Raramente conseguiam um bom resto de comida para sobreviver, porque havia sempre misturas nos lixos: carne com papel higiênico usado, restos de sabão no molho, frauda de bebê com refogado de frango... coisas do gênero.

Um dia, cansados dessa vida de poucas sobras, os barbas mal feitas organizaram um encontro no Lixão Abandonado de Caratapado, para unirem-se contra o mundo que tanto os odiava e criava mitos. Montaram uma base secreta no lixão chamada Área 91, um esconderijo para orquestrarem seus planos de dominarem o mundo. Lá tinham todo o material para montar intercomunicadores e armas contra pivetes (fundas, munição de restos de comida, catapultas... os peidos fedorentos, já estavam incluídos no pacote), utensílios de defesa e sobrevivência. Estavam prontos para a batalha!

Os líderes do movimento “O Saco Não Tem Crianças” começaram a fazer protestos frente ao governo exigindo alguns direitos:

-Acabem com o preconceito das crianças, façam a seleta dos lixos! Queremos ganhar sacos mais resistentes que estes!

Com entrevistas na TV e tudo que se tem direito, os candidatos a nova presidência começaram a prometer inclusão social para os Do Saco, além de Bolsa Sacola e apetrechos de defesas marciais.

O presidente Erradinho Portuguesinho venceu a eleição e criou uma companhia de vendas de mochilas ultra-resistentes para os barbas mal feitas passearem pelas ruas sem problemas. Com o impulso desse novo negócio, abriram muitos outros como o desodorante de pum-cheiroso, organizador de lixão multifuncional, aparador de barba fedorenta 4.5, espanta pivete 2000, e vários outros produtos para os Do Saco.

Tudo ia muito bem, até que uma empresa multinacional passou a vender mochilas de plástico durável, que segundo eles era um novo símbolo de avanço na modernização.

“Está na moda, todo mundo usa!” Diziam eles, em suas propagandas; entretanto os sacos começam a se rasgar com facilidade e os pobres velhinhos a comprá-los cada vez mais. Os restos de material inutilizado foram parar nas valas dos rios poluindo o ambiente, a tal ponto, que o Green-nunca-suje-aqui passou a persegui-los por proliferar sacos não biodegradáveis.

Tudo foi tirado deles novamente. Devolveram-lhes os sacos remendados e usados, o presidente Erradinho Portuguesinho cortou os projetos de inclusão socio-barbal e Bolsa sacola. Os “velhos do saco” voltaram às ruas hostis, aos lixos misturados e ao antigo mito de comerem crianças inocentes com lixo de sobremesa.

Autor: Míriam Coelho

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Amor banalizado


O amor é muito banalizado atualmente, o que imaginamos dos relacionamentos não é o mesmo que era sonhado nos anos 60 e assim por retrocesso na linha do tempo. Só essa palavra, ainda mais no mundo dos intelectuais, já significa uma perda de energia total! O que é amar? Para alguns significa encontrar alguém que não tenha defeitos. Para outra camada social é encontrar alguém que tenha os mesmos interesses e metas de vida. O mais comum é o pensamento de que se a outra pessoa começar a apresentar "falhas", logo será descartada. Essas pessoas sempre utilizam a mesma desculpa de que se quer "isso e aquilo" do outro e se esse não for assim, então cai fora! Ponto final. Não há nenhuma consideração de que errar é humano, nenhuma cogitação de diálogo aberto, nenhuma lembrança boa contrapesada com as falhas do outro. Fim de relacionamento.
As pessoas são incompreensivas, egocêntricas e mentes fechadas quando se trata do outro. Reclamam como bebês chorões e esperam de braços cruzados e beiços pontudos pelas mudanças alheias ao seu favor. Se não há alterações positivas, no seu ponto de vista, o outro é sempre descartado. Isso é ridículo, não?! Acredito que gostar realmente de alguém transcende uma avaliação besta em cima de falhas e acertos momentâneos. Claro que se o parceiro destrói a sua essência, não é companheiro, te agride ou te humilha, não há outra escolha, não há sentimento que dure. No entanto o que eu percebo é uma impaciência e orgulho destrutivo, que resulta em jogar fora alguém que poderia te acrescentar muito.
Contudo tem um tipo de amor que as pessoas banalizam ainda mais e que é de grande valia: o amor próprio. Calminha ai! Algumas criaturas acham que se achar "mais do que" alguém já é se amar; porém não é bem assim. Ninguém é melhor ou tem mais do que alguém. Sofremos e somos felizes na mesma intensidade, durante toda nossa vida, mas em histórias e cenários diferentes. Não se compare com ninguém! Estar em paz consigo mesmo e aceitar-se com defeitos e qualidades que se tem é o verdadeiro amor próprio. Tendo este, conseguimos suportar a solidão, as frustrações e não errar ao dar a chance a um verdadeiro amor, que pode surgir.
Para amar os outros, tem que crescer. Para amar os outros, também tem que amar a si mesmo. Não é enchendo a cara, se drogando, fugindo da realidade com todos os alucinógenos possíveis, que você conseguirá ser feliz e encontrar a pessoa certa, em meio a mil lembranças de relacionamentos que deram errados. E lembre-se, nem todas as mulheres são iguais, assim como nem todos os homens. Suas atitudes bestas é que provocam os mesmos resultados bestas.