A mamãe, uma professora trabalhadora - pobre sofredora - veste seu filho de dois anos de idade - indivíduo consciente de seus deveres e o espaço que ocupa no mundo contemporâneo - com uma peça de roupa caríssima para deixá-lo dentro de casa, com a porta do banheiro aberta, após desinfetar todo o ambiente com clorofina. Ela olha para o filhinho e diz "a mamãe passou clorofina em todas as paredes do banheiro, então não entre aqui, tá?" e vai ver a imperdível novela da tarde. A criança - muito concisa de seus deveres no meio social - entra no banheiro para brincar e inutiliza a roupa que a mamãe falou para não sujar. Que feio! A mamãe - pobre e inocente ser baixado na Terra -, quando vê o resultado da maldade do filho, grita, morde e bate nele até não ter mais forças nas duas mãos. Depois volta a ver TV.
Agora vamos recontar essa história:
A mamãe - criatura que ganha a vida dando aulas de forma anti-didática: na frente de uma classe de madeira, mandando os alunos ler e responder as páginas do livro "porque semana que vem tem prova" de preencher lacunas - veste seu filho de apenas dois anos (veja bem, eu disse DOIS ANOS. Porra, não dá para aumentar mais isso!!!) com uma peça de roupa caríssima e inútil para deixá-lo dentro de casa, com a porta do banheiro aberta, depois que ela desinfetou o banheiro com clorofina. Ela olha para a criança e diz "a mamãe passou clorofina em todas as paredes do banheiro, então não entra aqui, tá?" e vai ver a maldita novela de sei-lá-que-raio-de-canal! A criança, inocente e sem noção dos seus atos, ainda, entra no banheiro para brincar e inutiliza a roupa que a debilóide da mãe colocou e mandou não sujar. A mulher, estressada com a vida que tem e por não ter a roupa e as jóias que aparecem na novela, vê o resultado da brincadeira do filho de dois anos. Ela levanta da cadeira, grita com a criança, morde e bate até não ter mais força ou vontade de continuar batendo. Depois ela volta para a TV.
Essa é a arte de ser pai na sociedade contemporânea, constituída pelo homem moderno. Os pais - que não deveriam ser pais - despejam suas frustrações nos filhos, muitas vezes inocentes e indefesos. Então? Quem pode saber ou salvar um ser indefeso que não tem nem palavras para dizer o que é certo ou errado na vida dele mesmo?
(By Míriam Coelho)