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No Hospício

“A palavra não deve ser para a alma senão um sinal misterioso, muito discreto, muito austero, muito augusto, só perceptível à visão dos espíritos. Parece mesmo uma deplorável extravagância da nossa natureza incompleta este capricho de reduzir a medida e a cadência as grandes emoções a que a alma se exalça em certos momentos.” (Rocha Pombo)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A arte de jogar xadrez

Todos somos peças de xadrez guardadas para determinadas horas e descartadas noutras. Há vários tipos de peças, entre elas, aquelas que servem para alentar as que estão temporariamente solitárias e as que são alentadas por amigos verdadeiramente solitários. O problema de se saber disso é quando você se encaixa na primeira delas, e só caímos na real depois da revelação: o escanteio. Ai nos arrependemos e queremos muito voltar atrás. O egoísmo do ser humano nos remete à meras peças de jogo. Acessórios para a próxima fase.
Falo daquelas pessoas que sofrem com alguns problemas de uma vez só e tem amigos ali que ajudam, que dão o máximo de atenção e apoio para orientar o outro. Depois que a grande nuvem negra passa esses "amigos" ignoram a mera peça de apoio, e conseguem mesmo fingir que não está ali. E quando não há nada mais de útil para fazer lembram-se das peças de reserva, que estão passando por problemas semelhantes ou até piores que os deles, e dão uma passadinha ali, marcam um momentinho de presença e deu, voltam a viver suas vidas maravilhosas e compactas.

By Míriam Coelho

A mente

Houve uma época em que ganhar brinquedos era o que precisávamos para ser feliz, um brinquedo novo nos deixava contentes por semanas. Agora, os objetos que compramos nos deixam contentes no máximo por um dia (o dia em que o usamos pela primeira vez) e depois se tornam mais uma peça insignificante do nosso campo de visão corrido e conturbado. Não há mais brinquedos que possam nos alegrar ou curar nossas lágrimas como antes.
Alguns de nós têm a visão do certo e do errado, sabe o que fazer, mas se deixa levar pelos impulsos e se atira no buraco, como um cego, mesmo não estando cego. É muito fácil dizer "faça isso, faça aquilo" para os outros, porque estamos do lado de fora do labirinto e temos um campo de visão bem aberto sobre aquela pessoa. Mas quando somos nós ali dentro, cometemos os mesmos erros porque somos nós ali sofrendo, lutando contra os moinhos de ventos invisíveis. Não enxergamos nada além do que está próximo de nós, não sentimos nada além da nossa própria dor. Entramos e saímos inúmeras vezes nos becos sem saída e passamos pelas brechas de saída sem entrar, com medo que nos leve a outro equívoco.

By Míriam Coelho

sábado, 4 de setembro de 2010

A arte de ser mulher


Na história, a mulher brasileira foi uma das mais castigadas e reprimidas pelo machismo do homem. Também foram essas as que mais lutaram e construíram subsídios para termos a liberdade que hoje possuímos. No entanto, quando passo por uma TV ligada, ou observo certas atitudes oriundas de mulheres/meninas nacionais, me questiono "Onde foram parar essas mulheres que se valorizavam?".
É entristecedor ver que a maioria das que aparecem na mídia têm um visual do tipo: calças justas delineando bem o bunbum (a maioria siliconado), barriga de fora e os pelos pubianos bem a amostra, blusas espalhafatosas com os peitos explodindo de dentro, sempre gritando, sem nenhum comportamento que pareça ter resquícios de raciocínio humano. Uma ridicularização total do nosso sexo!
Não falo aqui da mulher brasileira em geral, afinal uma parte desse conjunto feminino trabalha, estuda, acorda cedo e volta tarde para casa, têm responsabilidades e as cumpri. Falo daquelas que não se preocupam em estudar. O trabalho fica para depois que tiver oito filhos e um marido que não espanque tanto. Falo daquelas que adoram mostrar a vulva - todo o resto que se tem e já não é mais segredo - nos bailes funk, dando um exemplo maravilhoso para o que ainda é criança. Cadê o respeito próprio dessas mulheres? Cadê a consciência? A dignidade? Está jogado no lixo, junto com o esforço das nossas ancestrais que morreram enforcadas, queimadas, torturadas e julgadas injustamente! Está duvidando? Não está concordando comigo? Então minimiza ai a página de fofocas e digita no google-imagens: "a mulher na inquisição" e dê uma olhada em como era a condição da mulher naquela época. Se isso te chocar, procure, então, sobre a conquista da mulher brasileira durante a história do nosso país e terás mais informações valiosas!
Surgiu, nessa semana, um debate em sala de aula relativo a visão da mulher brasileira frente aos países estrangeiros. Somos vistas como prostitutas, e é sério. O maior índice de imigração prostituta na Espanha é de brasileiras e argentinas, segundo um taxista de lá. Minha professora de espanhol disse que morre de vergonha toda a vez que visita seus parentes na França, na época do carnaval brasileiro. O porteiro de lá, que a conhece, liga a TV e ri com os amigos, assistindo o carnaval, com "aquelas mulheres" nuas (já não é semi-nuas), somente com os bicos dos seios tapados, e olhe lá! Para que isso? Não há mais fantasias carnavalescas, apenas tintas para o corpo e penduricalhos de plástico. Há muito tempo, se perdeu o sentido de festa para se tornar um fácil acesso para fuder.
Depois de tudo isso, as mulheres que realmente tem respeito por si mesmas são apedrejadas, ofendidas, humilhadas e maltratadas no estrangeiro, levando a fama de gente desse baixeza. Temos de aguentar frases como "é verdade que a mulher brasileira é criada desde criança para ser prostituta?" Uma coisa é tu ser uma menina, pobre, atirada nos quintos do país onde nem presidente consegue te enxergar, e ser obrigada a vender o corpo por pessoas de força maior, porque tu não tem dinheiro nem defesas próprias. Isso já é um problema triste e mundial, temos de lutar contra isso também. Outra é tu dar o corpo por ai, histericamente, e deixar bem exposto para o resto do mundo, como se fosse um slogan da nossa pátria! Isso me deixa doente de vergonha e revolta. Como já desabafei, só me restou a vergonha, a vergonha de ser mulher brasileira e saber que na mídia não aparece nenhuma que não fique gritando, se chacoalhando e falando de mais um silicone implantado na bunda de mais uma filha-da-puta!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A arte de ser educado e outras coisas

Esses dias eu estava assistindo um curso da faculdade quando a professora pediu para que continuássemos o trabalho da aula anterior, na qual eu não compareci, utilizando um texto também entregue nesse dia passado. Era uma tarefa pequena, algo que poderia ser feito em menos de 10 minutos sendo que tínhamos 30 minutos para fazê-lo, entregá-lo e continuar "jogando papo para o ar".
Virei para duas colegas atrás de mim, as quais cumprimento e tive a oportunidade de falar algumas vezes, e perguntei se poderiam me emprestar a tal folha depois que terminassem a tarefa. Não me responderam. Apenas me olharam e continuaram falando de assuntos paralelos, entre elas. O mesmo se repetiu com as três colegas da frente.
Tive de atravessar a sala, então, e pedir para outras duas colegas, que me chamaram para dividir a folha com elas e terminar o trabalho, por fim.
Achei uma total falta de educação e coleguismo da parte das colegas que nem me responderam a pergunta, como se eu tivesse de adivinhar o que elas pensam!, pessoas que temos de aceitar como "colegas" numa sala de aula. Meu curso é de licenciatura em letras. Como pessoas desse comportamento vão lecionar numa turma de adolescentes, ensinando a respeitar o colega e a ser solidário quando elas não o fazem?
Não quero nem mencionar uma, dentre essas colegas que não falam verbalmente, que age como uma criancinha mimada pior que as princesas da Disney, totalmente fora da nossa realidade, tem medo até de falar com os colegas sem ter a presença do namorado ao lado. Nunca responde nada para ninguém sem que o namorado mande, nunca faz trabalho algum sem que o namorado esteja por perto e não tem opinião alguma que já não tenha sido dita através pela bíblia! Uma Bella do Crepúsculo, versão bíblica.
Eu fico perplexa e revoltada com esse tipo de gente... Nada contra a religião, ou a Disney, ou até mesmo a minha turma de faculdade. Porém são atitudes assim que me deixam enojada e me fazem me auto-questionar quanto a "se quero ou não me tornar uma pessoa pública no futuro, tendo de conviver mil vezes com esse tipo de gente mesquinha?". Isso é só mais um registro do meu mundo perdido no qual pertenço não pertencendo.
(by Míriam Coelho)