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No Hospício

“A palavra não deve ser para a alma senão um sinal misterioso, muito discreto, muito austero, muito augusto, só perceptível à visão dos espíritos. Parece mesmo uma deplorável extravagância da nossa natureza incompleta este capricho de reduzir a medida e a cadência as grandes emoções a que a alma se exalça em certos momentos.” (Rocha Pombo)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O que há?

E esse gosto na boca, tão amargo que preocupa?

É como se pudesse pressentir o queimado dos sonhos.

Eu não quero mais caminhar pelas estradas assimiladas

Aquelas que me condenei a transcorrer

Para perceber os erros que cometi ao deixar-me levar.

.

É tão bucólico o que anseio para meus dias, que

Não haveria sentido de tantos obstáculos dolorosos.

Mas eles brotam da terra com o mesmo fervor dos

Desejos mais complexos e sombrios que se possa ansiar.

Não adianta, a inquietude tende a me amedrontar.

.

É como se o meu eu de dentro chorasse antecipado

Para alarmar os olhos do meu eu de fora, tão ingênuo.

Não quero ser tão transparente para os que me vêem

E não quero complicar a minha verdade para mim.

Quero ser complicada para os que me vêem

E transparente apenas para mim mesma.

By Míriam Coelho

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ah, é tão fácil…

sonhos_metalicos É tão fácil usar palavras já ditas por outros filósofos, não? Claro que a maioria delas fala como se respondesse alguns de nossos anseios, mas não significa que respondam aos conflitos do mundo constantemente. Não somos seres comuns e análogos. Por mais que as experiências se assemelhem entre os seres humanos, há sempre as histórias já vividas e a personalidade de cada um a ser relevada. Pelo menos é o que eu vejo.

Isso é uma das coisas que tem me revoltado por esses dias, e só agora consegui por para fora. Essa necessidade que as pessoas têm de dizer: eu entendo o que tu passas e acho que tu deves fazer tal coisa, é tão simples! Isso me revolta. Não, não é simples, e ninguém é dono da verdade de ninguém, não está sempre em nossas mãos o poder de surgir na frente de um amigo e dizer que ele está fazendo tudo errado e que tal caminho, sim, é o certo. É bem provavel que você esteja correto mesmo, tal caminho melhoraria a vida do outro, porém ele nem sempre tem as condições suficientes para estar nele, e tais caminhos podem depender de segundas e terceiras pessoas também. Há sempre muitas consideráveis a ser somadas com as situações e se os psicólogos já cometem erros, imagine um leigo na filosofia do emocional humano!

Outra coisa também que me revolta é quando tu estás com algum problema, desabafa com alguém e obtêm a resposta: ah, não é só tu, muitas pessoas sofrem com isso, tu não tens o direito de ficar sofrendo por isso, não é só tu. Eu acho uma total falta de hipocrisia consigo mesma, a pessoa filosofar em cima de dores gerais e esquecer de pensar sobre a sua própria, que está ali, matando cruelmente, no momento. Claro que devemos pensar nos outros, principalmente quando um amigo ou conhecido está sofrendo, necessitando de amparo. É humano oferecer a mão e todo o auxílio possível ao próximo, até nos momentos em que nós mesmos também estamos sofrendo. Assim como é humano refletir e discutir sobre as suas dores interiores. Agora, ficar dialogando sobre a depressão do mundo (mal do século), por exemplo, tendo um amigo quase se suicidando é ridículo! Vai ajudá-lo então! Deixe a filosofia para depois, para apresentar palavras que ainda não foram ditas nos blogs e orkuts (clichês).

Onde quero chegar aqui é que, por mais que nos seja semelhante, ou simples de mais, o sofrimento de alguém, não é! Não sabemos quais foram os traumas pelos quais a pessoa passou, para chegar àquela fraqueza; embora haja a chance de saber muitas coisas sobre a vida dela. Não temos o poder de julgar ou achar que é a hora da verdade e dizer tais palavras mesmo que doam. A intenção é boa, estamos preocupado com o próximo, mas não é esse o caminho, ninguém quer a resposta do que deve fazer, apenas alguém que ouça e dê apoio, carinho, só isso já é uma grande ajuda. Isso me deixa pasma e preocupada... Letras da Fresno e Legião Urbana não são a súplica geral do mundo, embora muita gente desabe em prantos escutando e use trechos das músicas no perfil do Orkut.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Minha verdade, sua verdade

Tuas palavras me machucaram como pontas de faca,

Como se elas quisessem ferir as tuas próprias verdades.

Através da minha fraqueza.

Não te enganes, pois nossas verdades

Não andam juntas, nem se encontram

Ali à frente.

Teus olhos um dia foram o meu amparo,

Hoje são parte da dúvida que resvala

Pelo meu peito.

Há muito mais no horizonte, eu sei

O mundo não é tão frio e mesquinho quanto

Você me jura.

Por noites e dias, meus pensamentos vagaram

Catando mil informações nos olhos e atitudes

De quem eu vi.

Por isso, não ajuízes que sou tão tola a ponto de abrigar,

De você, suas verdades leigas e cegas, transformando-me

Em destroços do que um dia fui!

by Míriam Coelho

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Uma canção a mais

Escrevo apenas palavras,

Estas que me convencerão

De que te esquecer é fácil.

De que te esquecer é rápido.

Tento delinear meu futuro num papel

Com cores que me inspirem alegria,

Quando, na verdade, apenas quero

Um canto para chorar até não lembrar

Dos motivos que me fizeram sentir dor.

Sim, você me maguou de verdade.

Mas não foi com tua ausência que isso melhorou.

Você calculou errado o que era certo.

E eu menti, eu não acredito em você ou nas suas promessas,

Porque você achou que algumas palavras,

Uma vez na vida, me fariam crer sempre.

Você me perdeu porque não cuidou.

Você me perdeu porque me deixou no vácuo

Tantas noites, sem eu saber o que deveria pensar.

Você não vai mais encontrar o caminho de volta,

Porque nem ao menos soube cuidar do que dizia,

Com tanta vêemencia, que tinha valor.

Eu, agora, apenas tenho que me convencer

De que é o fim para nós dois, e não te esperar.,,

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Conto: O Príncipe das águas

3768466519_0bd6b60d8e Havia uma casa que se localizava no topo de uma grande colina, à beira do mar frio e revolto, protegida por uma floresta, pedras imensas e uma trilha de barro que levava até a praia. Lá morava uma jovem, que vivia com sua família: a mãe, o padrasto e o irmão mais novo. Ela nunca saia, sempre ficava trancada dentro de casa, porque não tinha ânimo para sair do quarto. Sempre sentada à beira da janela do quarto, ela observava o horizonte azul e as águas do mar sombrio, enquanto fugia das discussões familiares dos outros cômodos da casa.

O tempo foi passando e, numa noite dessas, a garota sentiu um forte desejo de sair de casa. Pulou a janela do quarto, sem que ninguém visse, e caminhou em volta do precipício de pedras, mirando as ondas que se quebravam na costa, lá embaixo. Resolveu descer. Esgueirou-se pelos pedregulhos enormes e perigosos e seguiu uma trilha de barro, até pisar, pela primeira vez, na terra da praia. Sentiu uma energia tão grande, a liberdade misturada com mistério e felicidade, uma amalgamação de sentimentos. As imagens estavam escurecidas, somente a luz da lua e as estrelas clareavam a visão da menina, mesmo assim a vista era linda. Sentiu, sob os pés, a areia fofa e úmida pelo orvalho da noite, e a água escura e gelada que banhava e recuava na costa.

Enquanto caminhava pela beira da água gelada, avistou um homem no meio do mar, que vinha em sua direção, caminhando sobre as águas. Era jovem como ela; tinha os cabelos longos, que pareciam a continuação da água e olhos castanhos que brilhavam na noite. Ao se aproximar, ela pode notar a sua face serena. Ele vestia roupas tão escuras quanto o tom da água de onde surgira. Assustada, mas sem se afastar, ela perguntou quem ele era.

– Vim do mar e só isso basta saber, moça. – respondeu ele e os dois passaram a noite inteira conversando. A conversa começou timidamente até que ambos sentissem a vontade um com o outro. Ele falou dos costumes e objetos estranhos que tinham no seu mundo, assim como ela contou das coisas horríveis que tinham no dela. Ao perceber que o amanhecer se aproximava, despediram-se, ele voltou para o mar e a garota subiu a trilha de pedras novamente, de volta a sua casa.

Nas noites seguintes, os dois continuaram a se encontrar na praia. Caminhavam por terra, hora pelas águas do mar. Junto dele ela não tinha mais temor de nada, estava feliz, como no momento em que pisara na praia pela primeira vez. Tudo acontecia às escondidas da família da garota, ela saia à noite e voltava antes do amanhecer. E, numa noite, não suportando mais aquele sentimento para si, a jovem confessou seu amor pelo homem das águas e ele respondeu, “Não posso ficar com você agora. Tenho de resolver algumas coisas e tão cedo não voltarei.” Pronunciando estas palavras de despedida, o rapaz das águas mergulhou e não emergiu mais na promessa de que um dia voltará.

Novamente a vida da garota se tornou vazia. Toda as noites a garota caminhava pelos mesmos lugares onde passaram, na esperança de encontrá-lo novamente. ou reviver as lembranças mesmo; e a cada noite que ele não aparecia, mais seu coração se afligia, perdendo a fé. Até que, numa vez, ele reapareceu antes que ela descesse pela trilha de pedras.

− Você veio me buscar? Ah, sinto tanto a tua falta! – disse ela, nostálgica por revê-lo.

− Não, ainda não cumpri todas as tarefas, apenas vim ver você. – respondeu.

Caminharam juntos, conversando como antigamente e depois ele foi embora novamente. Os novos dias que se sucederam para a jovem foram tristes e difíceis. Ela voltou a estudar na escola do povoado e sofria com as perseguições dos colegas, como sempre.

Um dia, colocaram baratas no lugar onde ela tomava banho. Depois de tantos gritos de pavor, ela conseguiu controlar o pânico e matá-las, uma por uma.

Noutro dia obrigaram-na a trabalhar em dobro na limpeza e tarefas escolares. Os professores a mandaram fazer suas obrigações e as dos colegas, enquanto eles se divertiam no pátio. Tudo porque a detestavam.

Quando ela chegava em casa, tinha de sofrer com as brigas e implicâncias da família. Até que, um dia, para completar seus problemas, a mãe descobriu que ela saia a noite para passear na praia e obrigou-a a contar toda a verdade. Sempre que a garota ficava em casa ouvia sua família rir e dizer: Ele jamais voltará, tão pouco ficará com você.

O jovem das águas reapareceu pela segunda vez e em prantos a garota perguntou:

− Veio me salvar? Ah, estou sofrendo tanto… Estou sozinha e Preciso de você. Você não imagina o que estão fazendo comigo…

− Não. Vim apenas revê-la. Ainda não está na hora, preciso resolver algumas coisas. E você terá de ser forte, a partir de agora, eu não sei quando volto.

Abraçaram-se fortemente, caminharam pela trilha de pedras e pelo mar. Novamente, antes do sol surgir, ele desapareceu sob as águas.

Os dias e noites seguintes continuaram torturantes, e à medida que tudo corria, ela ia perdendo a esperança do retorno do amado. Foram dias e noites de lágrimas até perder todas as esperanças e jamais retornar a praia. Cansara de tanta espera.

Os anos se passaram quando ela conseguiu vencer todos aqueles que lhe faziam mal a sua volta. Tornou-se indiferente a todas as maldades e sempre que alguma lhe atingia, ela se defendia com todas as armas interiores que possuia. No entanto ainda sofria quando sua família ria e lembrava do amor que prometera voltar e jamais veio.

No anoitecer de um dia, porém, no meio da ceia que o povoado estava fazendo em conjunto, o jovem das águas apareceu, procurando pela garota. Quando ela o viu ignorou-o de raiva, não queria mais vê-lo. Tinha em mente que ele não ficaria por muito tempo e logo partiria. Ele a seguiu durante a festa inteira, enquanto todos riam dele e diziam que ela sabe que eles jamais ficarão juntos. Mas ao amanhecer a garota notou que ele ainda estava lá.

− Agora podemos ficar juntos. Já cumpri as tarefas que precisava antes de me livrar dessa maldição. Nunca mais irei embora. − Ele disse.

Em prantos, ela o abraçou dizendo: “Ah, meu amor. Veio na hora certa, pois se você demorasse um pouco mais, me perderia para sempre!” Os dois foram embora, no mesmo instante, deixando a casa, o topo da colina e o povoado que tanto fizera mal a jovem. Construíram uma nova vida em outro lugar e, hoje, se ainda vivem, são muito felizes.

by Míriam Coelho

Discussão Inútil

Eu estava navegando pelas páginas do Orkut, e numa das comunidades encontrei o tópico “Deus não existe”, com vários “concordo” e “discordo” descritos abaixo. Fiquei revoltada, não com tanto com a afirmação em si, mas porque a maioria das pessoas que disseram que Deus não existe é porque estão “revoltadinhas” com suas vidas sem graça, então querem procurar algo para porem a culpa.

Acredito que a questão ali não é religião, não. Deixamos a religião tomar conta de mais das nossas vidas, assim como deixamos a disney tomar conta de nossas infâncias, e quando descobrimos que a Ariel e o Mickey não existem, também concluímos que Deus e todo o “blábláblá” religioso também não (afinal, já cometemos muitos pecados e Deus não lançou raios para nos castigar, né?).

Deus existe, sim; mas não vai interferir na vida de ninguém, tão pouco castigar ou mandar para o inferno. Deus é a luz e o amor que temos dentro de nós e praticamos, está entranhado em nós assim como o demônio, que se refere aos nossos pensamentos negativos e atitudes imbecis. As religiões e o que elas pregam são filosofias de vida que cada ser humano escolhe seguir, são palavras que se aceitamos e devemos levar a sério, não seguir um rito aqui, cumprir uma promessa lá e visitar o templo a cada mês. Se você não escolheu filosofia alguma, não ajudou a si mesmo e não pôs um pouco de cultura dentro da mente, como é que vai encontrar o seu Deus interior?

Mas enfim, isso é tudo questão de crença e falta de estudos históricos mesmo, que a nossa cultura brasileira cultiva há anos e incentiva a piorar. Enquanto os grandes filósofos e pesquisadores como Marie Lousi Von Franz e JUNG tentam desvendar a ignorância mundial, nosso país continua afundado no funk e no BBB. Ninguém abre um livro para pesquisar o que as religiões tanto tentam encaixar em seus cérebros e se realmente faz algum sentido para suas vidas, tão pouco os significados das atitudes dos nossos povos antigos, muito mais ricos em cultura do que nossa sociedade atual.

Aquele tópico me irritou profundamente, porque ao invés de o ser humano procurar ajuda, procurar instrução, evoluir mentalmente, ele procura socar toda a culpa em Deus, que é luz, esperança, a vida que está dentro de nós e que temos que agradecer

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